sexta-feira, 15 de junho de 2012

Inscrições do ENEM terminam hoje


Encerramento inscrições ENEM 2012: As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio começaram no dia 28 de maio e vão até as 23 horas e 59 minutos de 15 de junho. A taxa de inscrição é de R$ 35,00 e deve ser paga até o dia 20 deste mês. Alunos que estão no último ano do ensino médio em escolas públicas, assim como pessoas de baixa renda que declararem carência, estão isentos do pagamento.
No decorrer do prazo para inscrição ENEM 2012, o Ministério da Educação (MEC) trabalhou com a estimativa de crescer em cerca de 5% o número de inscritos em relação ao último ENEM, aumentando de 6.221.707 para aproximadamente 6,5 milhões de inscrições. Em 2011, pouco mais de 5 milhões de pessoas pagaram o valor correspondente a taxa e confirmaram a participação no Exame.
O MEC prevê que, do total de inscritos neste ano, aproximadamente 15% não paguem a taxa de R$ 35,00. Até o momento, ainda não houve registro de problemas operacionais durante o processo de inscrição. A expectativa é de que a demanda cresça nestes dois últimos dias. As inscrições do ENEM 2012 devem ser feitas no site http://sistemasenem2.inep.gov.br/inscricao/.
ENEM 2012 já atingiu mais de 4,5 milhões de inscrições. As últimas informações divulgadas mostraram que os estados com maiores registros são: São Paulo (659.441), Minas Gerais (425.033) e Rio de Janeiro (315.292). Quem registra menores participações são Roraima, Amapá e Tocantins, com 11 mil, 14 mil e 25 mil inscritos, respectivamente.
Os participantes podem fazer o acompanhamento de inscrição do ENEM 2012 no mesmo endereço eletrônico que realizaram as mesmas. Todas as informações prestadas precisam estar corretas e devidamente atualizadas.
As provas serão realizadas nos dias 03 e 04 de novembro. O gabarito do ENEM 2012 será divulgado no dia 07 do mesmo mês, a partir das 13 horas. A previsão é de que o resultado esteja disponível a partir de 28 de dezembro.
Desde 2009, o Exame Nacional do Ensino Médio passou a ser usado como critério de seleção em instituições públicas de ensino superior, substituindo os tradicionais vestibulares. O ENEM também é pré-requisito para participação em programas do Governo Federal, como FIES, PROUNI e Ciências sem Fronteiras.
Não perca esta oportunidade, faça agora sua inscrição!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Fernando Pessoa



Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares ou Fernando Pessoa, ele mesmo?

Texto: Marion Frank

Fernando Segolin, 70 anos, é um dos mais respeitados especialistas de Fernando Pessoa dentro e fora do Brasil. Para este professor de Literatura e Crítica Literária da PUC-SP, a paixão começou aos 16 anos, no colégio, quando pela primeira vez leu um poema do poeta português - assinado pelo heterônimo Alberto Caeiro. "Fiquei impressionado com aquele à vontade da poesia de Caeiro, poesia simples, mas bastante intrigante no sentido de propor uma tese, a de não pensar, a de se livrar de toda e qualquer linguagem para assim chegar à verdade."

Caeiro era considerado mestre por todos os heterônimos de Pessoa, criador, por sua vez, de uma poesia revolucionária, na qual a presença de outros "eus" pode ser entendida como "... manifestações textuais por meio das quais o poeta procura concretizar suas múltiplas indagações com a realidade, o problema da existência, de sua razão de ser e de seu significado", realça Segolin. Assim, cada heterônimo ganhou uma identidade - e um jeito de pensar, sentir, reagir. "O signo poético de Pessoa é uma busca de novos caminhos que levam a surpreender paisagens até então insuspeitadas... Por força dessa inclinação experimentadora, a poesia de Pessoa é um gesto transgressor."

Autor de "Fernando Pessoa: poesia, transgressão e utopia", leitura fundamental para quem investiga o assunto, Fernando Segolin confessa que sonha vez por outra com o poeta português. "Sou um heterônimo dele com certeza... E o que Pessoa não viveu por meio dos heterônimos, digo que eu vivi." Dá vontade de saber mais, não é? Dê, então, atenção à entrevista a seguir.
Leia abaixo:

Recém concluída, "Fernando Pessoa, plural como o universo" foi uma exposição de enorme sucesso no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Pode-se dizer que o poeta português está em alta?
Fernando Segolin: A exposição teve o mérito de criar um espaço labiríntico, de várias entradas e sem um caminho a seguir, o que fez lembrar o universo dinâmico e plural da poesia pessoana... Mundo misterioso, que exerce grande fascínio até hoje.

Fernando Pessoa é o maior poeta da língua portuguesa?
Fernando Segolin: Sem vacilação alguma! Há outros grandes nomes, claro. Poesia, para mim, é uma forma mágica de encontro. Ou seja, não é uma forma de comunicação, porque a comunicação não exige que você se encontre e isso hoje mais do que nunca, já que há telefone, internet etc. O poeta sempre soube desse encontro mágico - e a poesia surgiu exatamente quando os poetas perceberam que a linguagem servia apenas para a comunicação - e não para o encontro. Eles decidiram trabalhar a linguagem comunicativa, transformá-la, de modo a ser uma forma de encontro. E Fernando Pessoa é o mestre dos encontros, ele usa a linguagem não para se comunicar, mas sim para promover uma aproximação do autor com o leitor por meio dos signos. Signos que são trabalhados diretamente por Pessoa com o objetivo de fazer do significado alguma coisa que nasce, ensinando a humanidade a falar uma linguagem que não diz, mas sim procura ser.

E o fato de Fernando Pessoa se apresentar sob a forma de vários poetas...
Fernando Segolin: Sim, Fernando Pessoa continua a ser atual ao se apresentar múltiplo, ele tem essa consciência de que a linguagem não serve e também essa nostalgia do outro - um sentimento que nós vivemos hoje intensamente. Porque a linguagem como nós a vivemos atualmente é uma forma de perder o outro. A preocupação não é conquistar, mas sim afastar o outro, basta ligar a TV e observar a lavagem cerebral, a linguagem utilizada...

Por que a poesia de Pessoa aparece com freqüência em exames e vestibulares?
Fernando Segolin: Esse interesse por Pessoa pode levantar, no meu entender, uma explicação contraditória... Pessoa tem poemas difíceis e outros, acessíveis ao leitor comum. Se eles forem isolados, dá até para fazer uma leitura rápida e acreditar que se entende tudo, o que está longe de ser verdade - sem o entendimento do conjunto, o que vai se conhecer desse poeta é quase nada... Li várias vezes toda a obra de cabo a rabo, e continuo a fazê-lo, a leitura é sempre diferente, o que se torna um dos grandes fascínios do poeta. Mas esse não é o alvo das escolas e dos vestibulares, os alunos não ganham essa experiência com Pessoa... Ele é famoso, escreve um português modelar. Os heterônimos são fáceis de sintetizar de modo superficial. É um ponto, portanto, simples de dar, apesar de ser denso - daí a contradição a que me referi. A maioria dos leitores já se julga dono de Fernando Pessoa com uma primeira leitura, e eu sou de opinião que ele fez isso deliberadamente, Pessoa não quis ser um poeta complicado. Agora, para conhecê-lo realmente, é preciso coragem. Coragem para se decompor, se fragmentar, e foi isso mesmo que eu fiz...

A poesia de Pessoa chegou a mudar a sua vida?
Fernando Segolin: Foi uma linda aventura, da qual não me arrependo em nada, apesar de ter sofrido muito... Experiências que marcaram a vida e que me senti levado a vivê-las por influência da poesia pessoana, algo que optei por fazer, claro, e que o poeta atiçou dentro de mim. Mas acho que tudo valeu a pena, sou uma pessoa melhor com Pessoa. Por isso, costumo dizer aos alunos, vão em frente com a poesia dele porque vocês têm um mundo a descobrir! É isso o que procuro transmitir em minhas aulas, Pessoa não é só um poeta que está no currículo - como é compreendido pelo vestibular, aliás. Nos exames, são feitas perguntas de algibeira sobre ele, quantos são os heterônimos, qual deles tem estilo clássico etc. A razão de ser Pessoa um dos preferidos dos exames de língua portuguesa é essa, a de permitir um questionário sobre o idioma e a capacidade de interpretar sem maiores dificuldades. E, no entanto, há poemas de Pessoa que parecem uma picada da mosca tsé-tsé, se você se deixar levar...

Poderia dar um exemplo do poder da poesia pessoana?
Fernando Segolin: O poema VIII, de "O Guardador de Rebanhos", de Alberto Caeiro, é terrível, não tem nada de bucólico, como ouço dizer por aí desse heterônimo... "Num meio-dia de fim de primavera, tive um sonho como uma fotografia. Vi Jesus Cristo descer à terra (...) Tinha fugido do céu. Era nosso demais para fingir de segunda pessoa da Trindade (...) Nem sequer o deixavam ter pai e mãe (...) E a sua mãe não tinha amado antes de o ter. Não era mulher: era uma mala em que ele tinha vindo do céu. E queriam que ele, que só nascera da mãe (...), pregasse a bondade e a justiça!". O próprio Pessoa diz ter ficado incomodado com esse poema em razão da sua educação católica...

Dá para dizer como é que a imaginação do poeta trabalhava?
Fernando Segolin: Fernando Pessoa diz que o dia triunfal de sua vida como criador foi o 8 de março de 1914, ele escreveu isso em uma carta ao amigo Adolfo Casais Monteiro, professor de língua portuguesa que depois veio para o Brasil, eu o conheci por aqui... Pessoa diz que acordou inspirado naquele dia e escreveu durante horas à mão; em primeiro lugar, surgiu o Caeiro, que redigiu quase todos os 40 e tal poemas de "O Guardador de Rebanhos", isso, de uma tacada só. Depois, Pessoa diz ter se cansado de Caeiro, ficou irritado com aquela poesia que falava muito da natureza, e, para contrapor, escreveu seis poemas de "Chuva Oblíqua", de cunho futurista - poesia de Pessoa, ele mesmo. Nela, o poeta procurou criar, com uma linguagem fragmentada, um cenário especial, usando a técnica curiosa que associa, por meio do verbo de ligação, sujeito com atributos inadequados. O resultado? Uma poesia cinematográfica, caso do poema II, "Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia, e cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça... Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso, e as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro...". Pessoa usou reticências nesse poema para marcar a ausência de conexão lógica. Naquele dia de março, porém, ele ainda escreveu "Ode Triunfal", de Álvaro de Campos, onde exaltou o mundo moderno, feito de máquinas e grandes conquistas.

Em que se distinguiam Álvaro de Campos e Alberto Caeiro?
Fernando Segolin: Campos é fácil de definir. A "Ode Triunfal" começa assim: "À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica, tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!" Esse é o lado eufórico de Álvaro de Campos, o das odes, em que ele procura sentir tudo e de todas as maneiras, homem urbano, moderno. Nada tem a ver com o pastor de ovelhas chamado Caeiro, que sonha com um homem que fosse sensação pura e com a sociedade em que as pessoas viveriam trocando experiências sensoriais. Acontece que Álvaro de Campos também apresenta um lado disfórico, ou seja, o contrário da euforia, no qual vive a desilusão - e do qual o poema "Tabacaria" é exemplo: "Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo". Com Alberto Caeiro, Pessoa queria se livrar de todas as máscaras, de todos os egotismos, pois seria assim, desmascarado, que iríamos encontrar a verdade. Já Álvaro de Campos se desiludiu com a própria poesia, reconhecendo que tudo o que escreveu nada era além de palavras...

Como é que Fernando Pessoa sobrevivia a personagens tão contraditórios?
Fernando Segolin: Caeiro foi o único heterônimo que Pessoa matou - aos 26 anos, de tuberculose, assim quis o poeta... Ele precisava matá-lo, afinal, a mensagem dele podia ser resumida em "não pense, não escreva, não leia e liberte-se de todo signo...", mensagem que tinha de ser transmitida e, quando ele o fez, foi morto para dar lugar aos que ainda tinham algo a dizer. Um teatro belíssimo criado por Pessoa, sem dúvida. Nesse teatro, Caeiro é o único com um caminho a seguir, enquanto os outros heterônimos se perdem... Além de Álvaro de Campos, eu destacaria Ricardo Reis e Bernardo Soares, além da poesia de Fernando Pessoa, ele próprio.

Quem foi Ricardo Reis?
Fernando Segolin: Monarquista que se auto-exilou no Brasil, quando foi instaurada a República em Portugal, isso aconteceu em 1910... Reis nasceu no Porto e os portuenses são bem mais conservadores do que os lisboetas. Reis fez estudos em colégio de jesuítas e é médico, apesar de não ter exercido a profissão. Poeta que ama o clássico, ao escrever Reis transmite o fado, o sentimento de que o nosso destino está traçado antes do nascimento e que não vale a pena fazer nada... Importante é viver o presente, sem grandes agitações, desligando-se de tudo o que o causa sofrimento. "Vem sentar-te comigo, Lidia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos que a vida passa, e não estamos de mão enlaçadas (...) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, mais longe que os deuses (...)." Os poemas de Reis são belíssimos, elegantes, há sempre mulheres, mas elas são interlocutoras silenciosas, como se fossem alunas... Não interferem, apenas ouvem.

E o que dizer de Fernando Pessoa, quando assinava poesia com o próprio nome?
Fernando Segolin: Ele dizia de si mesmo que era um outro, outro que usava o nome dele, mas não era ele... Nascido em Lisboa, ele viveu dez anos, dos 7 aos 17, em Durban, África do Sul, para onde a sua mãe se mudou em razão do segundo casamento (o pai de Pessoa morreu, quando ele tinha apenas 5 anos). Foi portanto sempre ligado à mãe e à terra onde nasceu: voltou a viver em Portugal, quando poderia ter ido para a Inglaterra, por exemplo, completar seus estudos. É um poeta consciente da música das palavras, além de revelar atração por tudo o que é oculto, místico. "Mensagem", o único livro que publicou em vida, é a sua tentativa de narrar a história de Portugal segundo a perspectiva do que está atrás dos fatos, do que os fatos simbolizam. "Que enigma havia em teu seio que só gênios concebia?", ele deixa no ar a respeito de D. Felipa de Alencastre, figura feminina marcante do final dos séculos 14 e início do 15 da história portuguesa...

Bernardo Soares também chegou a ser definido de heterônimo?
Fernando Segolin: Naquela mesma carta endereçada a Adolfo Casais Monteiro, ele foi definido pelo poeta "... como uma mutilação da minha personalidade; sou eu menos o raciocínio e a afetividade". Autor de "O Livro do Desassossego", espécie de diário íntimo e roteiro paisagístico de Lisboa escrito em prosa poética, Bernardo Soares era uma espécie de retrato interior do próprio Pessoa, daí ser chamado de "semi-heterônimo" por ele. Ajudante de guarda-livros que vivia só, em Lisboa, "... era um observador atento, inteligente, com a voz baça de quem acredita ser inútil esperar", na descrição do seu criador.